Carta da Curadoria – XVI Festival de Teatro da Amazônia

XVI Festival de Teatro do Amazonas: tecendo um exercício curatorial

O trabalho de curadoria poderia ser comparado ao trabalho de um dj (Bourriaud), ou seja, um trabalho que se faz através da combinação de informações que existem no mundo com a assinatura de pessoas diversas. No caso de uma curadoria em artes cênicas, as peças são frases e ideias que formam uma malha de sentidos, um texto, uma canção com muitas vozes. É um exercício de composição de discursos, uma declaração, uma playlist com muita gente envolvida. O que nós, curadores, fazemos é orquestrar essas vozes e bordar um tecido que amarra diversas linhas em um todo comum, porém, diverso. Curadoria é sobre conexão. Não é sobre espetáculos isolados, mas o que eles constroem juntos, em relação. É sobre alinhavar objetivos e desejos de um festival com o que artistas estão precisando dizer e com o que os públicos podem estar precisando ouvir em determinado momento num exercício complexo de generosidade e alteridade.

Um festival é como um corpo que surge, que se move e deixa marcas no território. Que lança perguntas no desconhecido. É um evento que convoca o encontro visceral e direto entre o corpo-festival e os corpos do território – cidade. O XVI Festival de Teatro do Amazonas é este espaço de articulação entre diversos corpos e suas múltiplas expressões que mistura cores como numa confluência entre rios. Foram 160 trabalhos inscritos ao todo dividindo-se entre a Mostra Paralela Ednelza Sahdo e a Mostra Competitiva Jurupari numa profusão de formatos, temas e técnicas. A quantidade de inscrições locais demonstra o volume e intensidade da produção de artistas amazonenses, sobretudo na Mostra Paralela Ednelza Sahdo, que revela-se, cada vez mais, como um importante espaço de festejo de estéticas e experimentações. É muito importante que o festival não se restrinja a uma mostra competitiva, mas que, cada vez mais, seja um ambiente de diálogo entre o estado do Amazonas e o país.

Buscando uma nova configuração de encontro, a décima sexta edição do Festival de Teatro da Amazônia, através de um intenso processo de curadoria, ampliou o olhar e a escuta para outras vozes e falas necessárias. Os trabalhos inscritos apontam, de forma poética e política, toda a potência que podemos construir juntos. Identificamos nesses trabalhos os ambientes e territórios que precisamos ocupar. Existe uma força e uma urgência presente em cada espetáculo que constrói a rede de afeto desta edição, que emociona e fortalece o desejo de estarmos juntos amplificando poesia.

Esta curadoria buscou contemplar diversas linguagens e territorialidades, apostando na relação entre as diversas expressões de artes cênicas sem a pretensão de enxergá-las como modalidades, mas priorizando o que os espetáculos têm a dizer. Uma curadoria composta por representantes locais da classe e artistas-gestores convidados, garantindo a diversidade de olhares e sentires. Notamos um forte trabalho visual em grande parte dos trabalhos inscritos, o que caracteriza uma retomada ao presencial plena de inventividade e risco entre corpos e matérias.

Um forte movimento de artistas da Amazônia e de outras regiões do Brasil se apresenta em bloco para celebrar e fortalecer essa potente plataforma de intercâmbio e circulação no Norte do país. Em meio ao caos, surge um forte banzeiro da Amazônia que transborda artes cênicas. Mergulhemos!

Com força e amor
Dyego M, Felipe de Assis e Mariana Pimentel

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